segunda-feira, 23 de junho de 2008

Síndrome de Burnout em professores



Este artigo, que recebi por e-mail, diz respeito a estatísticas, sintomas e condições favoráveis ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout em professores. É importante, companheiros educadores, que analisemos nossas atitudes e reações referentes à prática profissional (em sala de aula e fora dela), pois estes sintomas têm atingido um grande número de professores da educação básica. Fiquemos atentos!


Síndrome de burnout atinge 15% dos professores.

Uma pesquisa feita com mais de 8 mil professores da educação básica da rede pública na região Centro-Oeste do Brasil revelou que 15,7% dos entrevistados apresentam a síndrome de burnout, que reflete intenso sofrimento causado por estresse laboral crônico. A enfermidade acomete principalmente profissionais idealistas e com altas expectativas em relação aos resultados do seu trabalho. Na impossibilidade de alcançá-los, acabam decepcionados consigo mesmos e com a carreira.

O estudo confirma a vulnerabilidade do docente à síndrome, pois o excesso de exigências auto-impostas, associadas a condições precárias de trabalho, bem como à falta de retribuição afetiva, expõem o profissional a um desgaste permanente. Assim, a tensão gerada entre o desejo de realizar um trabalho idealizado e a impossibilidade de concretizá-lo acaba por levar o profissional a um estado de desistência simbólica do ofício.

Essa condição, mostrada em pesquisas anteriores, é confirmada por um estudo realizado pela psicóloga Nádia Maria Beserra Leite. Ela analisou 8.744 questionários, respondidos por professores de ensino fundamental e médio, como parte do seu mestrado no Instituto de psicologia (IP) da Universidade de Brasília (UnB), sob orientação do professor Wanderley Codo.

Nádia é cautelosa quanto à generalização dos resultados, mas considera os dados preocupantes. “Obter 15,7% num universo de 8 mil não é desprezível”, afirma. Caso o índice seja o mesmo em todo o País, por exemplo, então mais de 300 mil professores brasileiros convivem com a síndrome, isso somente no ensino básico. Entre outras conseqüências, tal cenário levaria a um
sério comprometimento na educação de milhões de alunos.

Os dados vieram à tona com informações obtidas por um questionário que permite identificar a incidência dos três sintomas que caracterizam a síndrome: exaustão emocional, baixa realização profissional e despersonalizaçã o. Com relação ao primeiro sintoma, 29,8% dos professores
pesquisados apresentaram exaustão emocional em nível considerado crítico. Quanto à baixa realização profissional, a incidência foi de 31,2%, enquanto 14% evidenciaram altos níveis de despersonalização.

Suscetibilidade

A síndrome de burnout pode afetar qualquer profissional. Porém, é mais comum em pessoas que desenvolvem atividades de constante contato humano, principalmente aquelas que favorecem o envolvimento emocional. Nesse grupo estão, por exemplo, médicos, enfermeiros e professores, profissões que lidam com ideais ambiciosos e situações que nem sempre podem ser resolvidas por eles próprios, seja manter alguém vivo ou promover transformações sociais.

Os problemas surgem à medida que esses objetivos não se concretizam. “É como aquela professora que pensa em contribuir para mudar a vida dos estudantes, muitas vezes reproduzindo a dedicação que teria com os próprios filhos, mas não se sente retribuída”, explica Nádia. Também se enquadra nesse perfil o professor que espera dos alunos um ótimo aprendizado do conteúdo por ele transmitido em sala de aula. Esforça-se para isso e o eventual desinteresse ou baixo rendimento dos alunos é percebido por ele como um fracasso pessoal. “Então, vem o desânimo e o cansaço”, diz a pesquisadora.

Sintomas

De acordo com Nádia, o primeiro sinal de instalação da síndrome é a exaustão emocional. Afetivamente, significa que o docente não consegue mais se doar. “Ele percebe o esgotamento da energia e dos recursos emocionais.” Quando não consegue lidar com essa sensação, desenvolve
mecanismos reativos. Como alternativa ao sofrimento, acaba por se distanciar emocionalmente, tanto do seu trabalho quanto do próprio aluno. O distanciamento do trabalho, ou baixa realização profissional, caracteriza- se pela falta de envolvimento pessoal e pela indiferença aos assuntos da sua profissão, além de uma assumida sensação de ineficácia contra a qual não tem ânimo para lutar. O distanciamento do aluno, ou despersonalizaçã o, aparece na forma de endurecimento afetivo e falta de empatia.

Para a pesquisadora, a despersonalizaçã o é a face mais perversa do burnout, pois afeta justamente aquele que deveria ser objeto de atenção e cuidado. Nádia exemplifica a situação citando docentes que se referem às turmas como “aqueles pestinhas”, ou que, na hora do cafezinho, tudo o que conseguem fazer é reclamar dos alunos. Qualquer referência aos estudantes
será sempre negativa.

Consequências

De acordo com a psicóloga, estudos vêm mostrando que professores com o problema tendem a adoecer mais, faltar ao trabalho e se tornar menos criativos. Em sala de aula, há grandes chances de piorar a relação professor-aluno. Uma relação de hostilidade entre os dois lados acabará comprometendo a aprendizagem.

Segundo Nádia, a presença do burnout em professores da educação básica levanta preocupações. “Esse período escolar acompanha uma fase essencial da formação do indivíduo. É quando a relação aluno-professor é mais necessária para a aprendizagem e o desenvolvimento integral do educando”, afirma. Já os estudantes universitários são mais independentes da figura
do docente.

Apoio

O estudo analisou formas de minimizar a síndrome e descobriu ser fundamental o companheirismo e a cooperação no ambiente de trabalho. Os professores que disseram ter apoio dos demais docentes apresentaram os menores níveis de exaustão emocional, despersonalizaçã o e de baixa realização profissional. A freqüência de exaustão entre indivíduos sem suporte é quase o dobro da verificada em professores que percebem estar apoiados pelos seus pares. Quanto à despersonalizaçã o e à realização profissional reduzida, os dados seguem a mesma tendência: a incidência desses sintomas é três vezes maior entre os docentes que não se sentem apoiados pelos colegas.

Soluções

Segundo Nádia, os resultados do estudo serão úteis em estratégias de enfrentamento da síndrome. Ela considera que medidas simples podem contribuir para minimizar o sofrimento. “O mérito desse trabalho é ter mostrado, de forma científica, que é muito mais difícil enfrentar de forma solitária os estressores que levam a burnout”, diz a psicóloga. “Encontramos evidências de que o suporte social no trabalho, que favoreça a construção coletiva de estratégias de enfrentamento dos problemas típicos da profissão, é uma maneira efetiva de reduzir as estatísticas da síndrome.”

Nádia afirma, ainda, que esse recurso tem o mérito de ser acessível aos professores, pois depende da vontade do grupo. Atividades que estimulem a aproximação entre professores podem contribuir para evitar a tendência a expectativas profissionais inalcançáveis, substituindo- as por metas realistas e discutidas coletivamente. Mesmo a ausência de condições de trabalho adequadas pode ser minimizada pela busca em grupo de soluções criativas, deixando de ser apenas uma queixa isolada. “É muito importante a sensação de ser acolhido por pessoas que enfrentam os mesmos problemas, seja na busca por mudanças ou para conviver com o que é impossível mudar”, diz.

Família potencializa síndrome

O eterno conflito entre trabalho e família é o principal elemento para desencadear a síndrome, revela a pesquisa. Isso acontece quando o professor se dedica mais do que poderia para a escola, reduzindo o tempo destinado à esposa (ou marido) e filhos, ou vice-versa. Do total de entrevistados com exaustão emocional alta, 74% indicaram vivenciar problemas para conciliar o tempo e a atenção que dedicam a essas duas instâncias tão importantes da sua vida.

Nádia destaca que esse resultado é uma indicação de quanto o trabalho docente tende a invadir o tempo que deveria ser dedicado ao lazer e aos cuidados com a família. Da maneira como o trabalho está estruturado na maioria das instituições, não há tempo, dentro da carga horária prevista, para que sejam realizadas atividades como preparar aulas, pesquisar materiais, bem como corrigir provas e trabalhos, tarefas que são levadas pra casa. Quando não consegue equacionar o problema, o professor passa a ser submetido a uma pressão em seu ambiente doméstico. Assim, já fragilizado pelos problemas que enfrenta no trabalho, fica mais exposto aos efeitos que levam a burnout.

Fonte: Agência UnB

Publicado em: 19/06/2008

terça-feira, 17 de junho de 2008

A tão difícil "autoridade"...

Um dos principais problemas em lecionar Filosofia é também um dos principais problemas em lecionar. Falo do tema "autoridade", termo de que, confesso, não gosto. A mim repulsa a idéia de que preciso subir no tablado, exigir silêncio, usar a questão das notas bimestrais como razão para que estejam atentos. Gosto de tratar meus alunos como meus pares. E quero que estejam atentos pelo tema trabalhado em si, que além disso não apenas mantenham a atenção no que digo, mas que digam. Talvez eu pareça idealista, talvez eu seja. Se minha didática funciona? Não sei responder.
É fato, porém, que nem todos se adaptam à minha postura. Nesse "nem todos" devo incluir certas partes da instituição escolar e certo número de alunos. Muitas instituições exigem a tradicional postura de mestre. Muitos alunos ainda estão imaturos para compreender que o conhecimento é uma construção e que, para isso, todos devem estar comprometidos.
Penso na possibilidade de que essa questão seja mais problemática para a Filosofia, visto que ela foi recentemente incorporada ao currículo escolar e, por isso, os alunos tendem a encará-la de forma diferente em relação às demais. Será isso? Boa pergunta, não? Não é verdade que a Filosofia geralmente é vista como desnecessária, gratuita e dispensável?
O posicionamento do professor em sala de aula é algo um tanto quanto complicado. Estou ainda construindo a minha didática e a idéia do tipo de professora que desejo ser, o que pretendo representar para os meus alunos. Apenas estou certa de que quero instigá-los, provocá-los, incomodá-los. Fazer com que suas macias poltronas da apatia se tornem extremamente desconfortáveis. Quero que pensem por si sós. Trabalho árduo, desafiante. Assim é educar. Se vale a pena? Acredito e gosto de acreditar que sim.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Apresentação e boas vindas

Saudações!
Sou Juliana Gama e leciono Filosofia para turmas de Ensino Médio. Minha experiência nesta função me concede a oportunidade de vivenciar fatos interessantes, irreverentes, intrigantes, enfim, de inúmeros possíveis adjetivos... fatos esses que, sem dúvida alguma, se repetirão indefinidamente. A vontade de dividir tais experiências, compartilhar dúvidas e informações relevantes no que se refere ao ensino de Filosofia (e muitas destas ao ensino em geral), é a razão central para a criação deste blog.

Lecionar Filosofia é um trabalho simultaneamente árduo e instigante. Lidamos com valores, muitas vezes arraigados, e por isso nos deparamos com diferentes universos, quase sempre conflitantes entre si e conflitantes com os nossos próprios. Porém é estimulante e sublime perceber o quanto a atitude filosófica, que conseguimos desenvolver nos alunos (é claro que em nem todos) os leva a crescer, a desenvolver a inquietude quanto a tudo o que os cerca. Nosso trabalho é conduzi-los ao incômodo, à indignação, a uma (ou várias) nova(s) visão (ões) em relação a seu entorno. E isso muitas vezes leva à análise crítica de nossa própria prática enquanto educadores, esse é o nosso retorno, certamente um grande estímulo.