terça-feira, 22 de julho de 2008


Post reservado aos comentários da enquete:


"Aluno(a):Que tema abaixo você considera mais interessante nas aulas de Filosofia?"

domingo, 13 de julho de 2008

O Mito da Caverna em quadrinhos!

Olá, caros alunos e companheiros de profissão. Finalmente encontrei na net, através do blog do professor Fabian (nos meus links), "As Sombras da Vida", história em quadrinhos do Maurício de Souza que mostra, de forma bastante interessante, o mito da caverna de Platão. O que considero mais relevante nesses quadrinhos é a comparação estabelecida pelo desenhista com os nossos dias, comparação esta que revela uma sociedade que, bem como os prisioneiros do mito platônico, opta pela escuridão da caverna - uma caverna em forma de caixa, com "sombras multicoloridas", uma caverna cujas paredes estão em todos os lugares em que se ouve ou se fala sobre certos assuntos (como o entretenimento bobo das tardes de domingo), uma caverna que nada mais é do que nosso tão amado aparelho televisor.
Já utilizei estes quadrinhos em sala de aula, primeiro como estagiária durante a Licenciatura, depois como professora. Vale a pena, pois os alunos conseguem visualizar o mito - cuja compreensão é quase sempre difícil - de maneira mais clara e, óbvio, divertida.

Para efetuar o download de "As Sombras da Vida", clique aqui.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Lamentável

O texto que se segue é de autoria do economista e especialista em educação Gustavo Ioschpe, e foi publicado na revista Veja de 30 de junho. O presente texto reflete um pensamento intensamente hostil em relação à obrigatoriedade da Filosofia e da Sociologia no ensino médio, característico de uma publicidade "castradora", de uma mídia que, obviamente, não se interessa (pois isso, óbvio, não a permite continuar lucrando) pela formação de um pensamento crítico e autêntico - tarefa essencial da incorporação de tais disciplinas nos currículos escolares.


A ditadura da vontade própria, por Gustavo Ioschpe

Volta e meia ouvimos alguém protestar contra a suposta subordinação do nosso sistema educacional aos interesses do capitalismo. Haveria uma "ditadura do mercado" ditando as escolhas e interesses dos alunos e, por conseqüência, a orientação do próprio sistema escolar, que teria de abdicar de todas as suas funções mais nobres para preparar seus alunos para o mercado de trabalho.
A noção é triplamente ridícula. Primeiro, porque seria um elogio imerecido ao sistema educacional brasileiro a idéia de que ele consegue preparar a maioria de seus alunos para o mercado de trabalho ou para uma determinada orientação ideológica: é um sistema que mal consegue alfabetizar seus alunos. 72% da nossa população, segundo o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional), não consegue ler e entender um texto simples. Segundo, porque a idéia de que o sistema educacional brasileiro é permeável às demandas da sociedade e espelha seus anseios é risível. Os desejos dos alunos e seus pais são irrelevantes; pesquisa após pesquisa mostra que professores e diretores buscam uma educação para a cidadania e para a politização, enquanto que alunos e seus pais vislumbram na escola a ponte para a ascensão social. Se a sociedade mandasse nas escolas, provavelmente veríamos nos currículos a inclusão de disciplinas de informática ou gerenciamento no Ensino Médio, ao invés da filosofia e sociologia, que acabam de ser impostas.
A "bancada da educação" no nosso Congresso é, em realidade, a bancada do professor: a maioria de seus membros são representantes de sindicatos da categoria, e se preocupam com os interesses dos alunos apenas nos casos em que ele coincide com aquele do sindicato dos professores, o que não costuma ocorrer com muita freqüência. Mas, terceiro e mais importante, a idéia é ridícula pelo próprio princípio que lhe é subjacente. Trata-se da velha idéia marxista da falsa consciência: a tese de que o pensamento dos oprimidos é, em realidade, fruto de introjeção causada pelos opressores. Sempre que o pensamento das classes mais baixas diverge daquilo que os oráculos marxistas decidiram ser o interesse dessas classes, é sinal de que o "proletário" teve sua capacidade de discernimento afetada pela superestrutura capitalista. É uma formulação deveras interessante: se um sujeito quer ir à escola para aprender coisas úteis e evoluir na vida, dando aos seus filhos uma existência melhor e mais digna do que aquela que teve, ele em realidade está sucumbindo à ditadura do pensamento dos outros, enquanto que se ele é obrigado, irrespectivamente de sua vontade, a aprender os ensinamentos de Marx, Engels, Rousseau e Durkheim (pois aposto que Adam Smith, Bentham e J.S. Mill não farão parte do novo currículo filosófico-sociológico), então, aí, sim, ele está exercendo sua democracia plena. O melhor árbitro das reais vontades de cada cidadão não é ele mesmo ou a sua vontade manifestada, mas sim a intelectualidade vanguardista e os arautos da revolução, que sabem das verdadeiras vontades de toda a humanidade, pois o intelecto e emoções de todo e qualquer ser humano é facilmente dedutível, na cosmovisão marxista: basta saber a que classe social o indivíduo pertence para saber de que lado da eterna luta entre os oprimidos e os opressores ele se situa.
Essa semana foram divulgados os resultados do último Saeb, o Sistema de Avaliação do Ensino Básico, referentes a 2007. Apesar da pequena e insignificante melhora em relação à última avaliação, de 2005, o quadro geral ainda é desolador. Nossos alunos não aprendem quase nada, e aprendem hoje menos do que conseguiam aprender em 1995. Não coincidentemente, na semana anterior a essa divulgação, foi sancionada a lei que obriga a inclusão de filosofia e sociologia nas escolas do Ensino Médio. Ensinaremos Sócrates e Hegel a alunos que não conseguem ler. Faz todo o sentido. Se o objetivo dos mestres é o doutrinamento, nada melhor do que espalhar suas ervas daninhas do pensamento maniqueísta e manipulador no terreno fértil da ignorância.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Matéria sobre Filosofia na revista "Isto É"

A revista IstoÉ do dia 11 de junho publicou uma interessante matéria sobre a popularização da Filosofia. Leiam trechos:

Filosofia em ALTA - Ela é disciplina obrigatória nas escolas, mania na tevê, nas empresas e até nos livros para crianças

Empresas contratam filósofos para palestras e consultorias, crianças de cinco anos travam o primeiro contato com o tema e, fora da sala de aula, adolescentes se reúnem para debater idéias de Nietzsche e Platão. Nascida na Grécia há mais de dois mil anos, a filosofia encontra terreno cada vez mais fértil no Brasil – até mesmo na tevê. No programa Fantástico, da Rede Globo, o quadro “Ser ou não ser” sobre filosofia entrará em sua terceira temporada. “A filosofia está em alta”, afirma a filósofa Viviane Mosé, apresentadora da atração. Ela, que carrega o mérito de tornar didático um tema pouco palatável, conclui: “O que está em baixa é a forma acadêmica de pensar.”

A crítica de Viviane é para o projeto de lei, recém-sancionado pelo governo federal, que obriga as escolas do País a incluir filosofia e sociologia no currículo do ensino médio. “Da maneira como o ensino é fragmentado, a filosofia vai ser mais uma decoreba sobre quem é Sócrates e quando nasceu Platão", teme ela. Mas há boas iniciativas, como a do Centro de Filosofia Educação para o Pensar - Filosofia com crianças, jovens e adolescentes, que ensina o tema para alunos a partir de cinco anos. Constituída de educadores e filósofos, o centro tem parcerias com 300 escolas do País. O método de ensino faz o aluno discutir filosofia em todas as disciplinas, e não apenas em uma matéria. “Prestamos assessoria pedagógica para professores e produzimos o material didático, que é adaptado ao nível cognitivo do aluno”, explica José Carlos Freire, assessor pedagógico do centro. Filósofo e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Mário Sérgio Cortella também foca nos filósofos mirins. Ele lançará este ano O que é pergunta, seu primeiro livro sobre filosofia para crianças. O interesse do mercado editorial pelo tema é crescente.eu Platão”, teme ela.

“Por muito tempo, a tecnologia fez o mundo focar no ‘como’ em detrimento dos ‘porquês’ e, enfadadas, hoje as pessoas procuram reflexões”, explica Cortella. No ano passado, ele deu 30 palestras sobre filosofia e ética para gestores do Banco Bradesco. “Ficou chique consumir filosofia”, diz o acadêmico, que discursa ainda aos funcionários da metalúrgica Gerdau sobre a diversidade humana. No Rio, a filósofa Viviane segue o mesmo caminho. “Ajudo o executivo a ler o que acontece no mundo contemporâneo e a agir no presente”, afirma.

Entre seus clientes estão a Petrobras, a Vale, O Boticário e o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, que a contratou para falar sobre ética e comprometimento aos funcionários. Um dos maiores centros de cursos livres na área de humanidade, a Casa do Saber também percebe o maior interesse pelo tema. Criada em São Paulo, hoje atua também no Rio de Janeiro e expandiu o número de cursos de filosofia de nove, em 2004, para os atuais 175.

Componente curricular excluído da escola pela ditadura em 1968, a filosofia seguiu existindo em colégios particulares, como o Santo Américo, em São Paulo, que desde 1975 ensina a disciplina. Aluna do terceiro ano do ensino médio, Gabriela Campana, 17 anos, reúne-se com amigos, durante as férias, para debater as idéias de Nietzsche e Maquiavel. E filosofa ao falar do valor do conhecimento: “Para estabelecer princípios e formar uma maneira própria de agir é preciso saber como outras pessoas pensavam o mundo e tentavam melhorá-lo.”

Sobre uma abordagem temática da Filosofia

Sustento a seguinte idéia: é inviável ensinar Filosofia sem despertar o interesse dos alunos em relação à disciplina. Em primeiro lugar porque ninguém filosofa por obrigação, e sim por um algo intrigante, que leva ao espanto - que, parafraseando Heidegger, é a arché (termo grego que designa "princípio") da Filosofia. Segundo porque o atual processo de reintrodução da disciplina (juntamente com a Sociologia) inclui uma certa suspeita negativa dos alunos para com ambas, o que prejudica o primeiro ponto - fato que já me foi provado empiricamente. Para mim se tornou lugar-comum ouvir comentários do tipo "Para que estudar Filosofia?", "Que chato, mais uma matéria para estudarmos", etc. e tal, o que gera um bloqueio importante dos alunos em relação à Filosofia.
Em vista disso, defendo (e faço uso de) uma abordagem temática da disciplina, abordagem essa que pode respeitar uma ordem histórica, sem que isso se converta em uma obrigação. Penso que trabalhar o conteúdo filosófico em unidades, baseadas em questões, torna o planejamento das aulas de Filosofia mais atraente e motivante. Considero mais viável e interessante falar de Ética, por exemplo, iniciando pela discussão do termo (questionando como os alunos o compreendem) para posteriormente apresentar a ética aristotélica, a epicurista, a estóica, o pensamento racionalista no que concerne à ética, a ética contratualista, a humeana, enfim; do que apresentar o pensamento pré-socrático, depois Sócrates, Platão, Aristóteles, etc., sem amarrar a discussão a tema algum. Claro que a abordagem histórica da Filosofia permite o trabalho com temas, mas penso que a problematização dos assuntos é facilitada pelo caminho temático propriamente dito. Desta maneira meu trabalho tem caminhado, assim tenho tentado despertar o espanto, que caracteriza a atitude filosófica, em meus alunos e outros seres pensantes.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Meus queridos alunos filósofos!

Meus alunos muitas vezes bocejam, viram os olhos, viajam inertes em suas carteiras ao me ouvirem falar de Kant, Descartes ou Hume. Me incomodam nestes momentos de ausência de interação. Mas despertam e franzem a testa curiosamente, às vezes até sorriem, quando questionados sobre suas concepções éticas, sobre a possibilidade de agirem como agem por medo da lei... se seriam éticos caso fossem invisíveis. Saltam brilhantes de sua incômoda inércia quando pergunto o que pensam quanto a determinado assunto, para depois trabalhar os conceitos.
Meus alunos gostam de falar sobre a política de cotas nas universidades, legalização do aborto, células-tronco, preconceito, corrupção. A maioria traz, claro, opiniões de terceiros, quartos, enfim, mas gosta de discutir, de argumentar, de provocar e quase sempre demonstra também gostar de ser provocada.
Tantas vezes me levam à inquietude, me fazem dizer que não gostam de pensar, que têm preguiça de ler, que são conformistas e permitem que pensem por eles. Outras vezes, como hoje, me levam à certeza de que precisam apenas do estímulo certo para entenderem (e gostarem) de Kant, Hume, Descartes.
Hoje fui surpreendida pelas apresentações de seus trabalhos. Houve comprometimento, e penso que só há comprometimento quando há interesse. E houve o estímulo, visto que os temas de trabalho, elaborados pela professora Flávia, minha companheira de profissão, foram muito felizes (A questão da ética quanto aos profissionais do aborto, preconceito homossexual, o debate ético quanto à educação sexual na escola). Nenhum dos temas fez alusão a alguma corrente filosófica, ou a algum pensador. Contudo, penso que filosofar não é debruçar-se diante de textos de pensadores consagrados, pesquisá-los, enumerá-los ou apenas entendê-los e ponto. Filosofia é movimento, ação, é análise crítica, passagem do senso comum para o bom senso.
Parabéns a vocês, mentes pensantes e corpos ativos! Desejo sincera e imensamente que permaneçam no desenvolvimento de seu senso crítico, caminho que, creio, vocês já começaram a trilhar.