terça-feira, 1 de julho de 2008

Meus queridos alunos filósofos!

Meus alunos muitas vezes bocejam, viram os olhos, viajam inertes em suas carteiras ao me ouvirem falar de Kant, Descartes ou Hume. Me incomodam nestes momentos de ausência de interação. Mas despertam e franzem a testa curiosamente, às vezes até sorriem, quando questionados sobre suas concepções éticas, sobre a possibilidade de agirem como agem por medo da lei... se seriam éticos caso fossem invisíveis. Saltam brilhantes de sua incômoda inércia quando pergunto o que pensam quanto a determinado assunto, para depois trabalhar os conceitos.
Meus alunos gostam de falar sobre a política de cotas nas universidades, legalização do aborto, células-tronco, preconceito, corrupção. A maioria traz, claro, opiniões de terceiros, quartos, enfim, mas gosta de discutir, de argumentar, de provocar e quase sempre demonstra também gostar de ser provocada.
Tantas vezes me levam à inquietude, me fazem dizer que não gostam de pensar, que têm preguiça de ler, que são conformistas e permitem que pensem por eles. Outras vezes, como hoje, me levam à certeza de que precisam apenas do estímulo certo para entenderem (e gostarem) de Kant, Hume, Descartes.
Hoje fui surpreendida pelas apresentações de seus trabalhos. Houve comprometimento, e penso que só há comprometimento quando há interesse. E houve o estímulo, visto que os temas de trabalho, elaborados pela professora Flávia, minha companheira de profissão, foram muito felizes (A questão da ética quanto aos profissionais do aborto, preconceito homossexual, o debate ético quanto à educação sexual na escola). Nenhum dos temas fez alusão a alguma corrente filosófica, ou a algum pensador. Contudo, penso que filosofar não é debruçar-se diante de textos de pensadores consagrados, pesquisá-los, enumerá-los ou apenas entendê-los e ponto. Filosofia é movimento, ação, é análise crítica, passagem do senso comum para o bom senso.
Parabéns a vocês, mentes pensantes e corpos ativos! Desejo sincera e imensamente que permaneçam no desenvolvimento de seu senso crítico, caminho que, creio, vocês já começaram a trilhar.

Nenhum comentário: